• Por Natuza Nery

BRASÍLIA (Reuters) - Um presidente com indiscutível aprovação popular passou a ser usado como atestado de boas intenções pelo candidato de oposição.

O programa eleitoral de José Serra (PSDB) trouxe Luiz Inácio Lula da Silva na peça publicitária na noite de quinta-feira, deixando uns surpresos e outros apreensivos.

A estratégia pode ter efeitos positivos e inverter a corrente lógica da eleição, mas é apontada por analistas como tática muito arriscada.

"O Serra está agora fazendo uma campanha por cinco pontos (percentuais), tentando evitar que Dilma Rousseff ganhe no primeiro turno", afirmou à Reuters Murilo Aragão, da Arko Advice. "Para obter quatro ou cinco pontos, essa estratégia, se continuar, pode dar certo."

O tucano que hoje usa a imagem do presidente foi seu franco concorrente em 2002. Naquela arena, era ele o candidato da situação, mas de um governo impopular no fim do mandato. Passados oito anos, trata Lula como Midas.

José Serra, o "Zé", tenta convencer o eleitorado de que é o candidato do pós, não do "anti-Silva". Segue desde a pré-campanha num jogo híbrido: ataca o PT e sua candidata, mas protege e, até se aproveita, de quem avalizou Dilma no páreo.

"O maior erro que eu vejo é criar um candidato de oposição dependente do presidente. Não faz sentido", ponderou Etevaldo Dias, da Santa Fé Ideias.

A experiência de tentar se misturar a um popular cabo eleitoral, mesmo não sendo o seu, pode ser inusitada, mas não é original. Há laboratórios que deram certo no passado.

José Roberto Arruda, por exemplo, foi eleito governador do Distrito Federal em 2006 após derrotar a candidata apoiada por Joaquim Roriz, bastante popular.

Arruda venceu Maria de Lourdes Abadia usando um elogio de Roriz em sua campanha. Chegava a rodar carros de som nas ruas da capital e entorno propagando o elogio.

Naquele mesmo ano, Jackson Lago usava declarações antigas de Lula elogiosas a ele, que disputava o comando do Maranhão com Roseana Sarney, candidata do presidente da República.

"É realmente um sinal de falta de boas opções para a campanha de Serra numa eleição em que eleitores querem mais do mesmo", afirmou Christopher Garman, analista-chefe para América Latina da consultoria Eurasia.

Com tão poucas certezas, essa parece ser a eleição que mais vai confundir a cabeça dos especialistas. Mais algumas semanas dirão quem estava certo.

Por enquanto, Lula segue sendo o padrinho de Dilma e, Dilma, a "mulher do Lula".


Fonte . www.msn.com.br